terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Apenas uma




Apenas uma, era o que precisava. Sentei e pedi uma. Fiquei alguns minutos vendo as pessoas circundantes. Nada do meu pedido. O bar estava lotado. Procurei ter paciência. Comecei a observar a vida em volta. Óbvio, a minha volta, tinha vários rostos, cabelos, gestos, risos, de pessoas conversando e bebendo depois de um dia estressante. Decerto, algo normal em qualquer grande cidade. No entanto, havia uma peculiaridade: eu sentei só. Sentei só e pedi uma. Que, por sinal, ainda não chegou. Começo a ficar impaciente. Não consigo me acostumar com atrasos. Mas, continuo esperando. Preciso de uma, depois do dia que tive hoje. Não vou ocupar o leitor amigo com os meus problemas – todos têm os seus. Ah, agora, depois de meia-hora, chegou. Primeiro gole: o sublime efeito que a cevada, o centeio e lúpulo têm ao sabor da primeira golada gelada. Após esse efeito, e a sua respectiva satisfação e paz de espírito, percebi que as pessoas cada uma a sua vez, alternada e progressivamente, me observavam. Fiquei perturbado com isso. Um mal-estar apoderou-se de mim. Mais um gole. As pessoas continuam a me observar, com olhares perscrutadores, indiferentes, intencionais. Pensei que tivesse algo de errado comigo. Olhei-me rapidamente, e não percebi nada de anormal. Decidi ficar indiferente. Terceiro gole. Depois desse dia, era o que precisava. Algumas pessoas continuavam a me olhar, outras já nem se davam conta da minha presença. Quarto e último gole, ela acabou. Nesse momento, foi que percebi a razão do estranhamento das pessoas alhures: é por eu estar bebendo comigo mesmo. Mas, o que há de estranho em beber só, eu, eu mesmo, uma garrafa, um copo semi-cheio, e a satisfação pessoal de estar bem consigo mesmo e relaxar depois de um dia cansativo. Talvez, beber só seja terapêutico. Ou, eu seja esquizofrênico – das duas uma. Contudo, bebi apenas uma e relaxei. Parti para casa e dormi bem. Não sei você, caro leitor, mas às vezes, uma tem um efeito profundamente terapêutico. De fazer relaxar e aproveitar a solitude. Apenas uma.
(Felipov)

3 comentários:

Juliana Brandão disse...

Ir ao supermercado no fim de tarde de uma sexta-feira, comprar um vinho, ir para casa, colocar a garrafa na geladeira, para mais tarde saborear aquela bebida na solidão e tranquilidade do seu lar também é terapêutico, caro escritor.

Camila Travassos disse...

Sugestivo.



(:

Anônimo disse...

Nunca fiz esse tipo de coisa, mas acredito que deve ser uma experiência bem proveitosa. É legal observar as reações humanas... Belo texto!

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