quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Adeus





“Meu amor, estou me afastando. Desculpe. Adeus” – estava escrito em uma cardeneta, embaixo das chaves dela, grafado irregularmente com lápis de olho. Gavetas vazias. Cabides sem roupa. O seu lado ainda quente na cama. Parece ser bastante evidente o que queres dizer – desculpe escrever a mão, sei que minha caligrafia é sofrível. Contudo, podes deixar mais claro o que queres dizer com isso, com o termo "afastamento". Por favor, seja categórica. E se há alguma razão para esse "afastamento" – para além da evidência. Só pra não ficar dúvida - sou meio lento. Que fostes embora da minha vida. Digo-te de pronto: fiquei triste. No entanto, não se preocupe. Como diz o Cartola: Acontece. Mas tenha certeza, o que te disse não foram apenas palavras, foram sentimentos - sou um sentimental, infelizmente. Foi importante te conhecer. Fiquei impressionado em conhecer alguém, mesmo com a distância, a inexorável distância, que me encantou. Encantaste-me. Não só pela beleza, mas, sobretudo, pela personalidade forte e a inteligência - o pessimismo, os detalhes, os escritos, gostar de literatura, cinema. Reitero o que havia dito outrora: és rara e especial. E por isso fico triste. Desculpe a prolixidade desnecessária e maçante. Pena que teu silêncio me disse o que eu não queria ouvir. E que a minha imaginação foi muito fértil – para o meu azar. Só mais uma pergunta, podes responder laconicamente: gostastes do presente?? Espero que sim, é a lembrança material que fica. Mesmo com a desventura, fico feliz. Fico feliz com o que ficou. Como percebestes, estou feliz e triste. Agora, não tenha o desconforto de responder essas linhas tristes se não quiseres. Utilize-se do seu livre-arbítrio. O silêncio do papel em branco vai me dizer, vai me responder. Neste momento, em que te afastas, entro nas sombras, nas brumas do tempo – como diria Florentino Ariza. E reitero o meu desejo: sejas condenada a felicidade. Ah, vou abusar: quero uma lembrança material tua, para além daquelas que ficou no meu coração, corpo e mente – não quero acreditar que foi apenas a minha imaginação, que eu inventei. Fiques bem – espero que meu coração fique. Adeus.

2 comentários:

Camila Travassos disse...

"Meu amor, estou me afastando"
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"Por favor, seja categórica"
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"Desculpe a prolixidade desnecessária e maçante. Pena que teu silêncio me disse o que eu não queria ouvir. E que a minha imaginação foi muito fértil – para o meu azar."
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"O silêncio do papel em branco vai me dizer"
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"E reitero o meu desejo: sejas condenada a felicidade"

Felipe, acho que o mês de fevereiro te faz bem xD. Os textos que postaste até agora estão incrivelmente tocantes. Ou eu estou sensível demais, ou o Felipov aprimorou a escrita - claro que eu acredito na segunda opção.

Mais acima, retirei os trechos que mais me marcaram e, sinceramente, o simples, o óbvio e o sutil são muito mais poéticos e mais capazes de nos atingir, de nos penetrar e comover do que quaisquer outros tipos de construção.

Às vezes gostaria de dizer apenas: gostei. Noutras, vejo que quanto mais comento, menos consigo transformar impressões em palavras...

Obrigada por isso.
(:

Pagliaccio Alves disse...

Lindo.

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