terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pretérito




O passado é longe
distante, um instante
do retrato na estante
que me faz ver, olhar
sentir, pensar, querer
chorar, imaginar
que a vida sempre é
o que já foi, e não é

O passado é perto
aqui, ao lado
palpável, direto,
sensível, ereto,
leve e bom, lindo
sorriso de criança
que não se cansa
de ser o que é

O passado é ali, acolá
amigo do vizinho,
amor de uma irmã,
inimigo do amigo,
o marido da tia,
o amante da vó,
a descrença minha,
de querer, sempre

O passado é eterno
suposto que é chama
dito que é grão
feito a sombria
bruma que habita
sem ver, sem sentir
a ampulheta da vida
O relógio inexorável

O passado é triste
taciturno, calado,
cabisbaixo, quieto,
de mãos nos bolsos,
chapéu baixo, segue,
caminha, sôfrego,
pelos labirintos
da existência,
na dialética da
duração, finita
 
O passado é alegre
Risonho
Brejeiro
Serelepe
Feito criança,
no parque, de sorvete,
algodão doce, tanta vida,
que se importa apenas,
com o fim da tarde

O passado vive em mim
O passado vive em nós
O passado, enfim

(Felipov)

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