quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Merda!







“Poooorra, Chumbinho, o que foi que aconteceu?? Só falta tu me dizer que não fizestes o serviço. Porra, estou atrasado pra encontrar a varejeira da Shirley. Hoje eu vou dar uma surra de pica naquela branquela... hehehe. Tive um dia cheio hoje. Muita onda pra resolver, inclusive o que te mandei fazer, mas pelo menos hoje chegou aquela breifa paraguaia, muito boa, vai dá pra passar por 25 contos aqui na boca. Mas depois te conto, estou com pressa. Te mandei porque és responsa, respondes. Bora, me diz, o que aconteceu?”

“Caraaalho, Porrudo, fizzz, fizzz meeeerda!”

“Como assimmm, poooorra, fez merda? Eu falei que era apenas pra alejar ele. Dava um tiro no meio da coluna e pronto. Simples e limpo. Mas fácil que matar um porco. Queria ver ele fudido, seco. Na cadeira de rodas. Aleijado. Era só isso, porque ele ia perder os parceiros dele do Guamá e da Condor. Quero que ele veja quem manda no Jurunas. Esse filho-da-puta tem que ver quem manda. Pra nunca mais me peitar. Um merda daquele. Porra, não te cantei a pedra que ele ia tá na rinha do João, levando aquele Galo dele, que parece ser um filho. Isso, era pra aleijar ele e matar o galo. O que foi, bora, caralho, desembucha?”

“Tá, tá. Calma, porrudo. Vou explicar. Eu fui lá na rinha do João. Ele tava lá, a briga do galo dele era a próxima. Ele tava preparando aquela galinha pra briga. O problema foi que ele me viu chegar. Não sei que diabo, parecia que ele sabia o que eu ia fazer. Ficou cabreiro. Me olhava toda hora. Ele tava com o galo, arrumando ele, essas porras. Quando ele marcou, já tava no cangote dele. Saquei o tresoitão. Do nada, um filho-da-puta apareceu, e me empurrou. Atirei, dois tiros. Um pegou no peito e o outro na cabeça, na testa. Caralho, nunca tinha visto aquilo, foi sangue e miolo pra tudo quanto é lado. Empreendi fuga, na hora. Isso foi a uma hora, dei um tempo, a poeira abaixar, e vim agora te dar o papo”

“Égua, Chumbinho, não acredito, puta que o pariu, fudestes tudo, porra”

“Eu sei, porrudo, mas na hora, a merda acabou acontecendo. Se eu não metesse fogo naquele leproso, era eu que ia rodar. Foi foda. Era ele, ou era eu. Foi ele”

“Eu só queria ver aquele leproso aleijado e seco, pilotando cadeira de roda. Ele ia perder as parcerias das bocas do Guamá e Condor, eu ia trazer esses camaradas pra formar com a gente. Os manos da Cidade Velha já são de casa. Agora, avacalhastes tudo. Porra, os caras vem com o caralho pra se vingar, tirar a desforra. Caralho, o que vou fazer pra evitar essa merda...”

“Olha, porrudo, dá essa idéia pro Caolho e pro Tripa, eu me dô com eles. Faço a ponte. Sei lá, como és labioso, eles podem querer firmar com a gente, eles sabem que és sanguenolento, é melhor te ter como aliado do que inimigo”

“huummmm... fiquei encaralhado agora. Vai lá na cozinha, pega uma água pra mim”

“Beleza”

Chumbinho foi cambaleante de medo, esperançoso de ter adiado o seu destino inevitável, depois da merda feita. Ouviu-se apenas dois tiros. O barulho do corpo e do copo d’água chocando-se contra o concreto da laje.

“Pato e Nescau levem o corpo do Chumbinho daqui, antes que ele comece a feder”

Porrudo entra no seu quarto, acende um cigarro.

“Porra, Chumbinho, ainda bem que sabias que sou sanguenolento, não queria, mas é assim que a bandidagem funciona. Merda resolvendo merda. Agora, vou ter que dar papo pra aqueles porras do Tripa e Caolho antes do tempo. Queria ver aquele filho-da-puta fudido e seco. Leprosos. Caralho, ainda tem a puta da Shirley, deixa eu ir logo, descolar essa foda. Merda!”

(Felipov) 

2 comentários:

Anônimo disse...

Ficou uma coisa entre Chapolin e Amores Perros. =) Muito bom, bobinho. Supreendentemente, só deu pra sacar que eras tu escrevendo no "Empreendi fuga". =P

PS: Agora, cai dentro! Vem ver se é fácil matar um porco ¬¬

Arthur Lamounier disse...

O mais curioso - e falo isso por todos os outros textos teus - é a capacidade com que você adequa o léxico e molda cada frase de acordo com a intenção que a mensagem carrega. Faz parecer que se envolveu com cada situação, que a protagonizou; ou, quando não, que pôde ao menos vê-la de perto, viver os instantes em que ela flutuou ali na tua memória e ajudou a transformar em literatura. Isso engradece a obra, demonstra que você se esgueirou entre as palavras, que se dedicou a cada letra pra fazer dela o encaixe ideal para o tema.

Seja pela parte tragicômica ou a simplicidade, os detalhes ou a leveza com que flui a narrativa. Quando te leio, os diálogos fogem dos limites da grafia. É como se falassem bem alto aqui comigo. E isso não se acha em qualquer escritor, Felipov, quanto mais internético, haha.

De um grande fã,

Arthur Lamounier

Postar um comentário