segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pessoas



Milhares de crianças morrem todos os minutos que marcam a minha indiferença. Duas guerras mundiais – milhões de pessoas mortas. A Paranóia de uma eminente hecatombe nuclear em um terceiro conflito mundial no qual botões sejam acionados e resulte apenas em paus e pedras. As baratas reinarão. Talvez elas construam uma civilização mais humana. Pessoas que acreditam serem melhores do que as outras em razão da cor da pele, da nacionalidade, da religião, ou qualquer outra estupidez que elas julguem serem mais especiais que as outras. Pessoas jogadas pelas ruas, desvalidas, pedindo os trocados que tens nos bolsos, seres humanos que sobrevivem das sobras que não te servem mais. Pessoas que se consideram doutas, na sua mais pura ignorância, sabem as filosofias gregas, as antropologias francesa, a economia inglesa, a ciência da história, versam prolixamente sobre a literatura mundial, discutem densamente sobre física quântica, físico-química, sobre teorias da evolução, da origem da vida, enfim, todo o conhecimento acumulado com a finalidade única da mais soberba arrogância de se considerar melhor que o outro – mais retórica que conhecimento em si. Pessoas que não sabem ler nem escrever, que sabem apenas escrever o seu nome e votar, e ler o que o analfabetismo funcional permite. Pessoas que tem experiências acumuladas que lhe rendem o conhecimento sobre a vida que nenhuma universidade conserva. Pessoas que perderam um pai severo, a querida mãe, os irmãos companheiros. Pessoas que perderam dinheiro na rua, na festa, no jogo. Pessoas que sentem saudade, tristeza, alegria, felicidade. Pessoas que apenas não sentem nada – absolutamente nada. Pessoas cínicas, sacanas e canalhas. Pessoa que não dão a mínima. Pessoas que se importam. Pessoas que te medo de pessoas. Pessoas que não tem medo de pessoas. Pessoas que amam. Pessoas que são amadas. Pessoas que não amam. Pessoas que não são amadas. Pessoas que (sobre)vivem com um salário mínimo, sustentam cinco filhos, pagam água, luz, supermercado, e ainda tem tempo de ser feliz no fim do mês, comendo churrasco, bebendo cerveja e fumando Derby. Pessoas que matam. Pessoas que são mortas. Pessoas que roubam. Pessoas que são roubadas. No final, pessoas, apenas pessoas, nada mais que pessoas, é o que existe, pessoas boas, pessoas más, estúpidas, inteligentes, bonitas, feias, religiosas, descrentes, que acreditam em Deus, no Diabo, em Buda, em Jah, gordas, magras, esbeltas, gostosas, neuróticas, esquizofrênicas, enfim, são tão somente pessoas de carne, osso, estômago, sexo e idéias.
(Felipov)

4 comentários:

Anônimo disse...

Pessoas conscientes,inconscientes e inconsistentes.

Anônimo disse...

Bom texto, bobinho. É uma fotografia narrada e dinâmica. "Pessoas de carne, osso, estômago, sexo e idéias" - bela frase final.
=)

Pedro disse...

Onde estão as pessoas que querem existir de outra forma? Acho que uma delas escreveu esse texto. Quero um final para elas escreverem juntas, para que não sejam apenas pessoas.

Anônimo disse...

- Já tinha até esquecido que o Derby ainda existe.
Quando li isso, só nostalgia.


Gostei.
Nicoly Uchôa.

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