O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
(O analfabeto político – Bertold Brecht)
Hoje é domingo. Como é de costume, acordo cedo, faço café, passo na padaria, compro pães e o jornal. Troco algumas palavras com o feirante da esquina, que sempre conta uma pilhéria sobre o meu time, e travamos um rápido diálogo sobre esporte – quer dizer, sobre futebol. Pergunto-lhe se concorda com subsídios governamentais, friso bem dizendo que é dinheiro público, dos impostos pagos todos os dias na margarina ou nos vegetais que ele vende, nas dívidas dos clubes, sendo eles entidades privadas, em sua maioria – ou seja, o público em função do privado. É visível a quebra no ritmo da conversa, fita-me com ar de desconfiança, pensa um pouco, e nada me responde. Sempre compro quatro tipos de jornais: um internacional, outro nacional e dois regionais. Indago ao jornaleiro se ele leu a seções de Política e Economia dos jornais, de forma amistosa, na malemolência das conversas cotidianas. Diz-me que nunca tem tempo, que apenas passa os olhos nas manchetes da parte de Esporte, Polícia e Entretenimento – fica igualmente reticente com a pergunta. Semana pós semana, questiono as mesmas coisas, e ambos dão-me as mesmas respostas. Fiquei com isso na minha cabeça. Quando leio os jornais, inclino-me a ver os diferentes pontos de vistas sobre as mesmas informações – caro leitor, pode perceber, as notícias são as mesmas, se diferenciando apenas quanto à redação, à diagramação e os detalhes, mas são rigorosamente idênticas. Na verdade, gosto de identificar as contradições de classe traduzidas em informações imparciais, neutras e “verdadeiras”. É um ritual, iniciar a semana, lendo jornal e tomando uma bela caneca de café – a garrafa fica ao meu lado, consumo uma inteira. Sento na minha poltrona favorita e gasto a manhã de domingo neste ritual. É um ritual político. Informa-me sob diversos pontos de vista é uma questão política na formação da minha opinião. As manhãs de domingo são o espaço que reservo na minha curta e diminuta existência para formar a minha posição política. Todas as semanas, faço perguntas com as mesmas intenções. Indiretamente, lanço questões em que procuro saber o que as pessoas entendem sobre a vida alhures. Sobre as condições de sua vida cotidiana. Fico preocupado. Porque vejo que não há respostas. Não são feitas questões. Há apenas reprodução. Simplesmente as pessoas comuns não observam a Política nas suas vidas cotidianas. O corriqueiro ato de ler um jornal é uma atitude política. Saber sobre Economia e Cultura. A Omissão é um ato político. A Desinformação é política. A Alienação igualmente. Tudo é Política. Absolutamente tudo que é humano tem encerrado em si múltiplos interesses sociais que indicam a ratificação ou retificação de práticas políticas que reproduzem ou contestam as estruturas sociais que fazem com que alguns possam ter a mais portentosa vida real, e outros morrerem na mais servil miséria. De todo modo, caro leitor, como a minha chatice manda, lanço-lhe uma questão: O QUE É POLÍTICA?? – espero, sinceramente, ter uma resposta. Uma sugestão: utilize melhor seus domingos.
1 comentários:
- Segundo Aristóteles, "O homem é um animal político.", ou seja, somos naturalmente políticos. Entretanto, muitos não possuem conhecimento disso. E por quê?
Bem.. o maior problema do povo brasileiro sobre política é que não são educados p/ tal ou, como em grande parte dos casos, não entendem que política não se restringe somente aos políticos profissionais e ao Estado.
Com isso, acabam deixando de perceber que a política engloba a nossa complexa teia de relações, essa que, por sua vez, estrutura a sociedade, baseada nas relações de poder.
Portanto, além de leitura, é necessário o olhar mais crítico, bem como, a percepção de que, mesmo estando umbilicalmente interligada ao poder e suas relações - notória na máquina estatal - ela é também, claramente, observada no nosso cotidiano, como citaste.
Gostei.
Nicoly Uchôa.
:D
Ah, eu já tinha visto o "Analfabeto Político", na realidade, vi o vídeo, mas com o final diferente ".. e lacaio dos exploradores do povo."
Genial.
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