sábado, 14 de maio de 2011

Idéia-fixa





Gordo, desgrenhado e decrépito. Barbudo e cabelos grandes. Um pouco desorientado e com uma idéia-fixa. Um cigarro na ponta dos dedos, para não deixar cheiro – detesto cheiro de cigarro. Sandália de dedo, bermuda e uma camisa dos Beatles. Sento no boteco. Uma tragada – o cigarro está no começo.  Peço uma dose para o garçom, meu camarada. Alhures, várias pessoas conhecidas e estranhas – iguais a mim. Sinto-me incluído. Está calor, começo a suar. Passo a mão na testa, tiro o excesso de suor, e limpo na bermuda – em um bolso, um livro de bolso do Bukowski, e no outro, uma carteira de Marlboro vermelho. Tento arrumar meu cabelo, desarrumando mais. Enquanto espero a dose, observo. Apenas observo, sentado só, em uma mesa, no boteco – um pouco afastado do burburinho das conversas, em um canto mais escuro, fico incógnito. A desorientação passou, sinto-me bem agora – mas, a idéia-fixa continua. Achei meu lugar, mesmo que parcial, no mundo. Outra tragada. E a minha dose não chega. Sempre é assim, demora o atendimento, mais estou muito tranquilo para me irritar. O boteco me passa paz. “Rapaz, desculpe, mais aquela branquinha que gostas, acabou” – disse-me Arnaldo, o garçom. “Sem problemas, meu caro. Traga-me uma cerveja mesmo. Estou com sede e calor” – respondi com parcimônia. “Tá certo, meu padrão. Vou trazer uma bem gelada” – Arnaldo replica, solícito.  “Isso, bem gelada” – digo, com o sinal positivo. Arnaldo faz um sinal de positivo com o dedo e segue em meio às pessoas, cadeiras e mesas.  Volto a mim, e a minha idéia-fixa: o esforço de adaptação, de inclusão. A necessidade de se adaptar para (sobre) viver em sociedade. De conseguir um emprego. De livremente ser forçado a vender a minha força de trabalho, de alienar-se do produto do seu trabalho em troca de um irrisório salário para sobreviver – frise-se: sobreviver. Comprar. Comprar mercadorias que dizem satisfazer necessidades. Necessidades impostas e arbitrarias. Ter que casar. A única relação estável legítima em uma sociedade promíscua e machista. Monogamia oficial. Promiscuidade relacional. Seguir a moda. Seguir as regras. Pensar igual. Agir igual. Reproduzir. Adaptar-se. Há dois meses, foi outorgado-me pelo Estado o título de Doutor. Agora, sou Doutor. Grandíssima merda. Um douto ignorante. Um douto que apenas aprendeu a justificar teoricamente os seus vícios e mazelas. Alguém que explica o desemprego versando sobre teoria do valor e do modo de produção capitalista com riqueza de detalhes marxista. Alguém que justifica a sua perversão sexual com chatas exposições psicanalíticas. A academia apenas me ensinou a ser um cínico com aporte teórico. Um hipócrita com título. Um idiota douto. A me adaptar. Em meio as minhas esquizofrênicas elucubrações teóricas, percebo a minha hipócrita posição de classe média, que senta em um bar para pensar sobre a vida, a teorizar inutilidades sobre não-adaptação. No local no qual falar um monte de merdas intelectualizadas é legal, fazer críticas à sociedade é legal, ser jogado é legal, querer não ser adaptado é legal, falar de arte, de cinema, de música é legal. Sinto-me incluído por conta de ser uma adaptação alternativa. Quando chego a essa constatação óbvia, levanto o olhar. Mais uma tragada. O cigarro acabou. A cerveja chegou, enfim – gelada, ao menos. Primeiro gole: precisava disso. Novamente, observo alhures. Percebo que também sou observado. Ela está em pé, conversando com uma amigas, bebendo, fumando e me olhando de lado. Linda e gostosa. Cabelos negros, branquinha, de vestido e tatuagem no braço – não é muito alta. Ela é gostosa, belo decote, e bunda marcada no vestido. Ela sabe o que provoca em quem a olha. Ela sabe o que provocou em mim – fiquei de pau duro. Ajeitei-me na cadeira, sem graça – sou tímido. Mais um gole. E ela me observa. Abaixo o olhar. Pego a carteira, coloco em cima da mesa, tiro um cigarro e levanto meu olhar para acendê-lo, ela está na minha frente. Pego um susto, e ela percebe. “Tem um cigarro?” – pergunta, provocante. “Não tenho” – respondo, ríspido. Ela cerra os olhos, dá um riso sacana. Aproxima-se mais, sinto seu cheiro de canela e cigarro. E senta no meu colo. “Eu sei que estais de pau duro. Eu saco o seu tipo. Baixinho, gordinho, barbudo e distante. São esses os putos. Os putos que gosto. Estou toda molhada aqui. Excitada com o teu charme e a putaria que sei inerente ao teu ser pervertido”.  Enquanto falava isso, abria o meu zíper, colocava meu pau para fora, apertava-o e batia. “É uma filha da puta” – pensei comigo. Ao mesmo tempo, coloco minha mão entre as suas pernas, e sinto sua buceta abundantemente molhada. Passo a ponta dos dedos, afasto a calcinha, sinto os pêlos molhados, os lábios e enfio dois dedos. Vejo sua cara de satisfação. Sinto-a quente e molhada. “Eu sabia que eras um puto” – ela me diz sôfrega de prazer. “És uma filha da puta” – digo puxando-a pelo cabelo e mordendo a orelha. Penetro-a com os dedos, com movimentos marcados. A penumbra e o afastamento da mesa nos dá impunidade. Tirei os dedos, e os chupo, sentindo o seu gosto e dou para ela chupar, e ela chupa com vontade. “Sinta o seu gosto” – digo-a. “Vamos embora daqui” – ela diz. “Vamos” - concordo. “Não, meu carro fica por aqui, vamos para o meu apartamento” – falou, pegando na minha mão. É, meu caro leitor, o acaso tem dos seus sortilégios. Deixe-me ir. Contudo, fica a reflexão, a idéia-fixa. Ou não.


(Felipov)

3 comentários:

Anônimo disse...

Porra, bobo. Eu saco que estas explorando esse estilo porno-broxante ultimamente (ahuauahahuuah...), mas não acho que nesse texto era necessário. Teus textos desse estilo são muito bons, e esse tava do caralho, mas tinha outra ênfase. Com frases antológicas, fantásticas. Gostei pra caramba, mas achei uma sacanagem gratuita no final. Desnecessária. Mas enfim, curti bastante até aí. =)

Caio César Santiago disse...

"Porra, bobo. Eu saco que estas explorando esse estilo porno-broxante ultimamente..." UAHEUHAEHUAEHAHAEUHEAUHEAUHAEUH

Anônimo disse...

.....

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