terça-feira, 10 de maio de 2011

Unilateral



Era unilateral. Uma paixão adormecida por longo tempo. E sem aviso, surgiu tomando um lugar que não existia para tal sentimento. A confusão foi inevitável. As dúvidas, as expectativas. Tudo se tornou muito movediço. Sem referência, sem trato. Era algo muito novo. E unilateral. Ela não sabia como lidar com aquilo: com essa paixão fulminante. Não era apenas carnal, era, sobretudo, espiritual – leia-se: pensamento. Havia entre eles uma afinidade incrível. Sem explicação. Fugia a qualquer lógica. Conversavam, conversavam, conversavam. Porém, não era qualquer conversa. Era um diálogo no sentido genuíno, no qual se constrói idéias, gostos, afinidades, dialeticamente – tese-antítese-síntese. Entre goles de cerveja, vinho, cachaça – pois, conversar seca a garganta. Sobretudo, por intervalos ininterruptos de baforadas de cigarro – fumavam carteiras juntos. Equivaliam-se até nos vícios. Música era um dos vícios compartilhados. Ela ficava impressionada com o seus conhecimentos sobre música, que não eram restritos apenas a letra, cantores e cantoras, bandas, grupos, nacionais e internacionais, ele explicava tudo sob a luz da teoria musical, em termos de harmonia, ritmo e melodia. Esmiuçava os elementos ideológicos e o contexto no qual as músicas foram produzidas. Ela ouvia atenta, discordava no que podia, mas concordava com tudo – e ficava encantada com tanta inteligência, sem demonstrar seu encantamento. Em contrapartida, ele ouvia, sem muito discordar dos conhecimentos dela sobre cinema. Era uma cinéfila. Discutia por tendências e diretores. Cinema alemão, italiano, russo e francês eram as suas especialidades. Apresentava julgamentos técnicos sobre enredo, fotografia, trilha sonora e a inflexão que cada filme representava na história do cinema ocidental – ele ficava muito impressionado, mas não demonstrava também. Por um lado, espirituais. Por outro, obviamente, carnais. Havia uma atração irresistível entre os dois de desejos ligados ao primeiro olhar. Ele olhava-a, seus seios tímidos, coxas grossas, bunda farta, sua boca carnuda, seu jeito de falar, dissimulando vontades e desejos. Ela apenas olhava a sua bermuda pontiaguda, deverasmente pontiaguda. Claro estava: ambos estavam excitados. Bicos visivelmente arrebitados. Ela de calcinha molhada. Ele de pau para fora. Primeiro ato: um beijo tácito. Um beijo penetrante. O beijo. Segundo ato: mãos descontroladas, dedos, línguas, mordidas, chupadas, por todo o corpo. Mão na pica, língua na buceta. Gemidos. Gritos. Prazer. Mordidas nos peitos - faltavam na sua mão, mas sobravam na sua boca. Chupadas, chupadas, chupadas no pau, ele segurava-a pelos cabelos, com rigor, e guiava o ritmo, e dizia: “chupa, chupa, chupa”. Tapas, abria as nádegas – ela sentia os seus dedos. Tapas, dedo no cú – ela arfava de prazer, com o pau na boca. Era algo que fugia a qualquer racionalidade. Totalmente instintivo. Como dois animais – diria Alceu Valença. Só interrompidas pela urgência animalesca da penetração. O clássico pica na buceta. Terceiro ato: penetração. O encaixe era perfeito. Corpo a corpo. Coro a coro. De quatro. Animal. Ancas abertas. Ele dentro dela. O suspiro dela. O puxar de cabelo dele. Pausa. Cadência. Choque. Corpos se chocando. Pausa. Cadência. Choque. Ritmo, ritmo, ritmo. Violência. Tapas, tapas, tapas – violentos tapas. Gemidos, urros, gritos – de ambos. Suor, muito suor. Pingavam. “Mais forte, mais forte” – ela dizia. E ele ia mais forte. Mais forte, forte. Ela gemia estridentemente. E ele ficava mais excitado. Sincronicamente, ambos gozavam. Cansados. Entorpecidos. Olharam-se. Ela com amor. E ele com satisfação. Era unilateral. Espiritual e carnal recíproco – tese-antítese. Amor unilateral – síntese parcial.

(Felipov)

5 comentários:

Juliana Brandão disse...

Felipe, simplesmente disseste tudo!

Barão da Ralé disse...

Cara, como Barão, tenho que dizer que impressionei!!! Por onde tens andado heim Eu-Lírico??!!! Ou melhor com quem??
Sabes que por mim, teus textos seriam mais excitantes e despudorados (sem perder tua marca)!! No início pensei que seria mais uma história de amor não correspondido de linguagem já conhecida. Fiquei surpresa com a mudança de tom, com as palavras "nuas e cruas" (ainda prefiro xana \o/) e melhor, com tuas características de escrita.
Realmente gostei. Foi uma foda bem dada, num tom poético.

Bj

Camila Travassos disse...

Posso resumir o sentimento que tive ao ler o início desse texto mais cedo e agora, ao lê-lo completo, em uma única palavra: surpresa.


(:

Tamyris disse...

Excelente post, Bobo!!!!
Amei. Confesso que a princípio esperava outra coisa, mas a coisa foi pegando forma, ficando quente... Muito bom mesmo!!!
Parabéns, pela escrita e pela foda bem dada. xD

Bia Mafra disse...

Acho que Bukowski andou te visitando
bastante ultimamente.

:)

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