Conheço-a a muito tempo, dos tempos da tenra infância, dos tempos bons, nos quais somos felizes sem nos darmos conta, mas não tenho tanto contato. É desse tempo que tenho algumas lembranças, as memórias do amor de infância, do platonismo infantil, dos sentimentos que passaram, bonitos por sua inocência, tal que não foram, não aconteceram. Um dia desses foi saber, em conversa fortuita com ela, que isso era recíproco. Nostalgia e uma felicidade tácita me invadiram, fiquei surpreso em saber disso, de uma correspondência não-correspondida, de que eu foi alvo, uma vez na vida, do platonismo de alguém. Ri sozinho dessa situação. A vida é engraçada por conta dessas situações. Hoje, somos amigos, e conversamos sobre isso em tom saudade e troça. Ela é hoje, não mais aquela menina envergonhada que andava nas barras da saia da mãe, lacônica que só ela, com a sua beleza infantil, e sim, o oposto, uma mulher linda, mãe dedicada, inteligente e independente, diria um bom partido. Na verdade, uma pessoa peculiar, diria novamente. Infância, bela infância, que deixou as suas indeléveis marcas, nos tornando eternos infantes. Crianças crescidas, obrigadas, pelo tempo, a envelhecer. A viver. Restamos o desafio, infantes crescidos alhures: viver a vida com o brilho, o entusiasmo e esperança da terna infância. Talvez seja esse o sentido da vida: encarar a vida como um eterno infante.
(Felipov)
2 comentários:
Ao mesmo tempo em que encantou-me, entristeceu-me... Essa ideia filosófica do tempo as vezes me agride. Não por estar envelhecendo, mas por olhar para minha infância e ainda vê-la insuficiente... Será que fiz todas as peripécias desejadas? Lógico que não. Mas a magia "tácita" platônica de tentar voltar ao que era ou estar com alguém de maneira pura singela enche o peito de emoção e saudade...
Belo lirismo! Um convite muito gostoso ao passado de qualquer leitor.
E a ilustração ficou perfeita!!!
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