Da última vez que conversamos me dissestes algumas coisas que te provocam mal-estar. Coisas que, em algum momento da minha vida, também me provocaram o mesmo mal-estar. O que fiz, por minha vez, para resolver estes problemas foi repensar alguns aspectos na minha vida. E, nesse movimento, de repensar, consegui respostas. Sei que não é um movimento fácil, mas que sempre vale a pena ser feito. A maiêutica socrática é sempre necessária. Este foi o meu conselho, aquela altura: repense, questione-se. Encontre respostas por si mesmo – tenho certeza que são as melhores. Ontem, depois que nos encontramos, conversamos naquela festa, fiquei pensando algumas coisas, e queria te falar. Falamo-nos rápido, é verdade, estavas com os teus amigos, e, eu, com os meus. Para ser breve, e não te ocupar, queria te deixar outro conselho: cuidado com o excesso de liberdade. Admiro-te por expressares a tua liberdade. Não é todo mundo que consegue fazê-lo, e é por isso que te digo que tenhas cuidado. Sabes que vivemos em uma sociedade de aparências, na qual as pessoas fazem imagens de si e dos outros. E por expressares um comportamento livre e desprendido de amarras sociais, padrões e preconceitos, podes ser mal-interpretada, e fazerem uma imagem e julgamentos equivocados sobre ti. Digo isso porque te conheço e gosto de ti – senão fosse esse o caso, não me daria ao trabalho de falar contigo. Cuidado com o excesso de liberdade, não são todas as pessoas que estão preparadas, e como a nossa existência é social, podes enfrentar problemas, cedo ou tarde, apenas por falta de prudência – ou, maturidade. Não estou querendo dizer com isso que devas condicionar a tua vida a opinião ou ao que outros vão dizer ou pensar. Obvio que não é isso. É que apenas sejas mais discreta. É essa a palavra: discrição. Expresse a tua liberdade com mais discrição, com auto-preservação. Não vais ser menos livre por isso. Apenas vais evitar problemas desnecessários. Enfim, não é para menos que Sartre disse: estamos condenados a liberdade. Repense e cuide-se. Ou não. Deve ser apenas rabugice minha mesmo.
(Felipov)
1 comentários:
No momento em que lia esse texto, a primeira palavra que me veio à mente foi "rabugice" mesmo. "Mas que eu-lírico mais rabugento!", pensei. Só um eu-lírico rabugento seria capaz de implicar com a liberdade alheia xD
"E por expressares um comportamento livre e desprendido de amarras sociais, padrões e preconceitos, podes ser mal-interpretada...", tão sartreano isso. Essa é a (uma das) punição(ões) de sermos livres.
Mas como cantou Rodrigo Amarante:
♫♪ Ah, se o que eu sou
É também o que eu escolhi ser
Aceito a condição ♫♪
Postar um comentário