quinta-feira, 14 de abril de 2011

Porque era ela, e era eu. Ponto.


A sua languidez me fascina avassaladoramente. Ela tem um jeito peculiar de me fascinar. É de difícil explicação – e eu sempre tentando explicar. É sensorial demais a forte impressão que a sua simples presença me faz. O bem-estar que provoca o seu cheiro de cabelos limpos ao aroma de condicionador, roupa limpa e alfazema. A cada abraço inocentemente dado, sentia esses cheiros que me tranqüilizavam instantaneamente.

A sua morenice – leia-se: negritude – me fascina. Seu traços fortes, e, ao mesmo tempo, delicados, olhos oblíquos e semi-cerrados. Corpo bem definido, formoso, expressão da flor da juventude, de um misto da beleza negra e traços renascentistas – uma beleza “morenamente” clássica. Um sorriso encantador – acanhado e agressivo. Suas imperfeições são igualmente encantadoras. A meu ver, a beleza se define pela imperfeição, pelo que torna aquela pessoa que a porta única, singular. Rara, portanto. É isso: sua beleza é rara.

Seu jeito de falar é raro. Sempre exitoso, gestual, pausado, apaixonado, com ricas e marcadas expressões de boca e olhos. Sobrancelhas que falam junto com o gesticular de mãos. A defesa do seu ponto de vista com uma inteligência ácida e densa, com argumentos contundentes, com pouca margem de contraponto ou crítica. Simplesmente irritante. Ela me irrita e, a um só tempo, me encanta. Discutimos de tudo, e nos perdemos em nossas discussões.

A nossa última discussão foi tomando café de entrada e cachaça de saída. Encontramo-nos de tempos em tempos. São sempre bons encontros. Sempre que nos encontramos nos perguntamos por que ficamos tão afastados – ninguém tem resposta. Aos goles de capucchino bem quente, com bastante canela e licor, conversamos profusamente, sobre diversos assuntos. Conversamos de perder a noção do tempo e espaço.  Conversamos como se existíssemos apenas nós dois em meio aquele caos urbano do centro da cidade.

Já ébrios de cafeína, fomos, como transeuntes, andar por entre pessoas, carros e arranha-céus. Andando e conversando. Até que chegamos ao outro destino. “Uma dose aqui, meu caro” – digo ao garçom, meu camarada. Sentamos. Compartilhamos a dose – ela não queria tomar uma só, disse que era muito, e que bebida corrompe o espírito. Sentamos e esquentamos o espírito. Enquanto ela falava, fumando graciosamente um cigarro, eu apenas observava.

Observava. Observava. Pedi uma cerveja – estava com sede. Bebemos mais algumas. Ela tinha que partir, havia dado sua hora. Despediu-se de mim, e foi embora. Acabei a cerveja. E parti. Porque era ela, e era eu. Ponto.

(Felipov)

5 comentários:

Camila Travassos disse...

Um Felipov de outrora...
(;


Liberdade. Permitir-se ser; deixar que o outro seja também. Amar é isso, não? Tão simples... E amar 'porque era ela, porque era eu'.
Simples. Exato. Pronto. Ponto.
Felipe, Chico, Montaige... lindo, seus lindos!

(:

Anônimo disse...

Realmente minha namorada é especial "bobo" (=

Anônimo disse...

Ler esse texto trouxe-me nostalgias de quando era eu e o meu amado...
Lindo Felipe, adorei a descrição, muito bem sinestésica, simples, porém doce. O texto flui, está na medida certa e a intertextualidade é de tirar o chapéu, parabéns!

Anônimo disse...

Ah, não tenho mais orkut, ando sem tempo de movimentá-lo e sem vontade de usá-lo, então a gente se fala por aqui mesmo.

Abraços!

Barão da Ralé disse...

Quanto amor há nesse blog :p venha se sujar no Barão!!
Brincadeiras a parte: Gosto dessa nova fase, mas não nego, que quero ver mais excitação!! Sei que tramas isso!! Coloca pra ver a reação dos teus leitores.

Bjos

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