domingo, 25 de abril de 2010

Summer 78

Nasci na época errada
Não sei por que tenho essa idéia
Hoje, pensando sobre o passado
o vejo tão presente e condizente
As manhãs de domingo
As tardes chuvosas de sábado
A segunda cansativa de entrada
E a sexta animada de saída

No entanto, em minha lembrança,
vem o verão de 1978
Tempo de alegrias e certezas
Utopias e divagações
Foi que a encontrei
Quando estive no Leste Europeu
Russa, mediana, olhos azuis, cabelos franzidos ao natural
Camponesa, uma mujica, que lia Tolstói e Proust
Sotaque francês, isso: era francófona
E francófila – uma ofensa a qualquer russo médio
Uma ocidentalista
Aspirante ao Bolshoi, sem altura, desenvoltura e rendas

Por isso, me notou, me encontrou
Na livraria na qual trabalhava perto do rio Neva
Era vendedora e guarda-livros
Pedi qualquer livro do Dostoiévski, em francês
Ela se animou e de pronto me atendeu
Trouxe os Karamazovi – como ela sabia que era meu favorito
Troquei duas palavras sobre a obra
Apreciava o Ivan
E nessas parcas palavras trocadas
Percebi o quanto era encantadora
De uma inteligência aguda e irritante, quase subversiva
A ternura com que arrumava, organizava e limpava os livros
Quase peço para me juntar a eles

Nos olhares trocados e no contato formal
Houve um encontro
Levantei-me e fui ver uma estante
Logo depois, pedi sua ajuda, e ela veio
Voltei-me para ela, e nos vimos de frente
Fronte-a-Fronte, envergonhados
Por ímpeto, sentimentos e emoções
Abraços, beijos e afagos
No corredor, meio escuro e desabitado
As memórias daquela tarde em São Pertesburgo
Ainda vivem em mim
Habitam-me, se escondem
O passado-presente
O verão de 1978
Aquele verão de 78
Da svidania, mujica
(Felipov)

2 comentários:

Anônimo disse...

um poema-histórico, que nerd!!! ¬¬ (auhauhauhauhuahauhuahauhauhauh....)

Unknown disse...

Adorei o poema-erótico!!!!! Por mais que nao tenha tido a mínima intenção de ser... lá no fundinho das estantes ele se mostrou assim! ^^
Isso prova, q todos podem amar e curtir um pouco dos sabores da vida!

Sara

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