Foi aquela foda bem dada de sempre.
Dois corpos cansados e suados. Heloísa arrumava o cabelo molhado de Álvaro. Ele
respirava ofegante, fumando um cigarro. Magro, imberbe, cabelo grande. Ela não
fuma. A fumaça não incomoda. Acostumou-se aos hábitos. Seu corpo voluptuoso
repousava, satisfeito, no lado esquerdo no corpo de poucas carnes de Álvaro. Ela
é linda em todos os sentidos. Ele é apenas um filho da puta. O filho da puta
que ela ama. Contradições da vida.
“Eu te amo, Álvaro”
“Heloísa, eu já te disse, a única
coisa que posso te oferecer é uma foda”
“Eu não acredito que não gostes
nenhum pouco de mim”
“Não é essa questão...”
“O que é então? Não acredito que
não posso ser amada”
“Claro que podes, e mereces...”
“Então?”
“Mas não por mim, Heloísa”
“Tens outra? É isso???”
“Não”
“Por que, Álvaro?”
“Tu queres um marido. Uma família.
Filhos. Ser feliz. Definitivamente eu não posso te oferecer essa vida
cor-de-rosa”
“(...)”
“Heloísa, eu sou uma pessoa oca,
rasa, abjeta. Eu preencho esse vazio com sexo, porres e leituras. É a isto que
se reduziu a minha vida”
“(...)”
“A porra deste egoísmo que corrói
as minhas entranhas como se fosse um câncer, que me deixa com essa queimação
permanente no estômago, essa boca amarga, esse mal-estar, essa dor de cabeça, essa
vontade de morrer permanente, destituindo-me de qualquer feição de criatura
humana, cada vez mais eu quero me isolar da humanidade, tudo e todos me parecem
intoleravelmente patéticos, imbecis, idiotas. Sobretudo, eu”
“(...)”
“Se estou deitado aqui contigo
agora é por saber que tenho sexo garantido, uma boa foda garantida, e isso não
é a primeira vez que te digo isso, sabes disso tudo que estou dizendo agora,
nunca menti pra ti... NUNCA”
“(...)”
“Sabe, Heloísa, essa situação é
foda. Eu tenho me sentido uma pessoa profundamente inútil, sou sustentado pelos
meus pais, formado em Ciência da Computação, essa merda que me garantiria um
emprego bacana, e foi uma das grandes burradas que fiz na vida, olho pra ti,
linda, inteligente, e não sinto nada, eu me sinto um miserável, um ser desprezível,
a única coisa que sinto é vergonha da vida que levo, desse vazio que preencho
com a tua presença, com o teu corpo, com os carinhos que me proporcionas, com a
atenção que me devotas, sem receber nada em troca, senão o uso que faço do teu
amor, com um parasita, é isso mesmo, sou um verme que te parasita. Desculpe,
Heloísa... já estou falando muita merda...”
“(...)”
“Sabe, eu acho melhor, tu ires
embora, e não voltes mais. Por favor. Realmente, eu não sou aquilo que queres,
eu sou aquilo que mereces... Caralho de merda de vida...”
“Só não me pede isso... Me deixa
aqui do teu lado... É o bastante pra mim...”
“Heloísa... Por favor...“
“Álvaro, por favor, não fale mais
nada... eu amo por nós dois... e isso me basta...”
“(...)”
Olho no olho. Ela chora
copiosamente. Ele limpa as suas lágrimas. Cobre os corpos desnudos com lençol.
Ele adormece fazendo carinhos no cabelo liso, limpo e cheiroso de Heloísa. Ela
observa o seu dono, feliz pela estimação.
(Felipov)
4 comentários:
felipe, entra em contato comigo. tô tentando te ligar desde a semana passada pra gente fazer a nossa troca, mas quando não atendes o teu celular ele sequer chama.meu e-mail é bezerraricardo@rocketmail.com
abraço,
ricardo
Gostei! Gostei muito!
Simples, leve e sensacional. De prender num só fôlego do início ao fim da leitura. Gosto quando escreves estórias assim ;)
Seu FDP! =)
Cara, eu estou me planejando para fazer uma jornada pela America Latina. Fiz as contas e creio que consigo juntar a grana em 7 ou 8 meses. Pretendo alugar um carro por um mês ou dois, e fazer uma rota até a Terra do Fogo, só viajar, só me ocupar com o caminho. Eu preciso disso mais do que nunca! Nesse meio tempo vou ver se removo todos empecilhos.
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