domingo, 20 de março de 2011

Beijou-me

                                                  (O Beijo, Pablo Picasso, 1969)


Beijou-me acariciando a minha boca com a sua barba, na verdade, seu bigode com um cheiro e gosto inebriante de vinho. Sempre que me visitava no meu apartamento, traz duas garrafas de vinho tinto do Porto – meu predileto. Seus beijos eram carinhos de bigode. Bigode ruivo, rústico, que deixava a minha boca vermelha a cada interminável beijo. Beijou-me com amor, volúpia e violência. Beijou-me como a muito não fazia. Passava os dedos sobre as minhas sobrancelhas como só ele sabia. E, ao fazê-lo, olhava-me nos olhos. Fitava os meus pensamentos, perscrutava minhas angústias, procurava os meus fetiches. Seus olhos verdes me diziam do seu amor, do seu carinho, do seu desejo. O carinho terno nas maças do meu rosto que me deixava envergonhada. Aproximava-se levemente da minha orelha, e me dizia: “És minha Capitu” – era assim que me chamava. Desembaraçava com um cuidado de artesão os meus cabelos castanhos. Ah, como eu adorava que ele fizesse carinho nos meus cabelos. Ele sabia o quanto gostava. Ao pegar nos meus cabelos, ele me dominava. Estava em suas mãos – e disso ele sabia melhor do que ninguém. Daí por diante, eu virava um sujeito passivo e um objeto ativo em suas mãos – voluntariamente. Apenas ele sabia fazer um carinho profundamente afrodisíaco com a sua barba. Arranhava meu pescoço, costa, nádegas, seios e abdômen. Deixava-me vermelha e dolorida – e eu adorava. Ele conhecia cada parte do meu corpo.

Após esses carinhos preliminares, beijava-me as pernas – minhas pernas são sensíveis ao toque, quiça beijos de barba. Mordia-me as coxas. Começava a ficar mais febril. Ele beija-me, beija-me a minha intimidade. Despiu-me com os dentes – como disse, estava entregue em suas mãos. Beija-me a minha intimidade molhada. Sinto os seus toques, a sua língua, em minha intimidade aquosa e trêmula. Meus gemidos ecoam no quarto. Sua língua falicamente penetra-me. Sua língua perscruta-me. Sua língua senti-me. Chupa, chupa, chupa. Mordia os meus lábios. Mordia o meu ponto. Enlouquecia. Simplesmente enlouquecia. Naturalmente enlouquecia. Mordia e chupava meus doces pêlos – como ele dizia. Terminava quando sua boca cansava – ou quando eu o induzia a terminar, a minha loucura precisa ser distribuída a outros lugares recôndidos do meu corpo. No entanto, continuava a sua escalada. Suas mãos o guiavam no caminho. E, enfim, elas encontravam meus seios. Com o indicador e o polegar pegava nos bicos e fazia movimentos circulares. Com a totalidade da palma das mãos encaixava-os nas redondezas dos seios. Os lábios beijava-os. A língua chupava-os. Os dentes mordia-os. Chupadas, chupadas, chupadas. Os meus seios não são grandes, encaixavam-se perfeitamente em sua boca. Chupava-os gostosamente. Gemidos novamente.

De súbito, ele me ajeitava, com carinho e rudeza. Fiquei de quatro. Sentia-o dentro de mim. O encaixe é perfeito. Sentia-o entrando e saindo. Falicamente entrando e falicamente saindo. O ruído de corpos se chocando. O seu abdômen em minhas nádegas – aquela barriga saliente. Pressão, pressão, pressão. Ele me pressionava, segurando os meus ombros. Debruçava-se sobre mim. Em seu movimento renitente, variável, intercalado com momentos demais ou menos pressão, acariciava ternamente os meus seios. Movimento renitente, brutalmente prazeroso. Intercalado, novamente, com as mais violentas e carinhosas tapas. Enfiava os seus dedos no meu cabelo, sinto-os passando pelo meu couro cabeludo, e puxa, com vontade, meus cabelos. Puxava, me aproxima. Puxava, com mais pressão. Mais e mais pressão. Tapas e tapas. Puxões, puxões e puxões. AHHHHH-OOOOHHH – eu gozei. E, ele gozava ao mesmo tempo, de forma sincronizada. Fizemos outras posições, igualmente épicas. Acabamos o vinho e fomos dormi. Acordei só. Havia ido. Seu cheiro ainda estava ao meu lado na cama e no meu corpo. Apenas um bilhete escrito com caneta vermelha de uma caligrafia horrível: “Até logo, minha Capitu”. É um dos meus amores – o que mais amo. Já sinto saudades. Sem despedida, sua ausência, beijou-me.
(Felipov)

3 comentários:

Camila Travassos disse...

Apenas para tornar público aquilo que já te disse:

Gosto desse lado do Felipov que está querendo - e conseguindo - vir à tona. Mais ousado, mais agressivo, mais erótico. Explorando outras searas.
(:


Além, é claro, de ter curtido muito essa narradora, aparentemente passiva... =)

Anônimo disse...

Hum... Sem palavras. Bem diferente do que costumas escrever, porém rico! Sinestésico, pós-moderno. Interessante ver o olhar da narradora, aparentemente com o controle de tudo.

Explore este gênero, como a Camila disse, tem futuro! ehehe

Anônimo disse...

- Quase excitada aqui.

Nicoly Uchôa.

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