Nunca tinha sentido
isso antes
O que o camponês sentiu
com o surgimento da cidade
O jacobino com a Revolução Francesa
O proletário com a Revolução Russa
Foi o que senti quando acordei hoje
Liberdade – foi o que senti
A liberdade de se preocupar consigo,
do eu ensimesmado,
do ter consigo,
do se ver em si –
não confundir com egoísmo
É apenas liberdade – o estar bem em si, só
Sem compromissos, obrigações, cobranças
É o ser na sua medida natural – se isso é possível
Contudo, ao pensar nisso, me veio
aquela sentença sartriana:
o homem está condenado a liberdade!
Estamos mesmo?? – fica a questão.
Adianto uma resposta: não sou livre,
pois tenho consciência do mundo –
deveras moderna, por sinal.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Um amor de barba
Ela pega na minha barba. Sempre que estamos juntos, é quase um ritual: o momento da barba. Adora fazer carinho, passa as suas alvas mãos por todo o meu rosto. Seus dedinhos cálidos nas minhas sobrancelhas, fazendo o seu contorno. Com leveza, afaga-a toda, seus gestos repetitivos com as pontas dos dedos, que faz um leve ruído ao atritar com os pêlos, me dá um sentimento absoluto de paz e tranqüilidade. Ela diz o quanto gosta dela – já fez até juras de amor, com quais me diverti muito. De como é proporcional ao meu rosto. Que o meu sorriso contido fica melhor com ela. Macia, cheirosa e sedosa – é como me deixa sem graça. Até os meus beijos são mais estimulantes e saborosos com o roçar da barba nos seus lábios. Por isso, aprecia especialmente o bigode, pois é com ele que faço carinho nela, através dos beijos. Ela sabe como me agradar: é só me colocar no seu colo, pegar nos meus cabelos e acariciar a minha barba – eu viro uma criança feliz e satisfeita. Fica por horas a fazer isso sem cansar, era como se o tempo parasse a nos contemplar, observando aquele momento de terna e profunda reciprocidade, que por invejar, como punição, acelerava o cair ritmado da areia na ampulheta. São horas intermináveis de beijos e carinhos na barba, que pela inexorabilidade do tempo, acabam na sua eternidade momentânea. Sempre dizia que quando a tirava transformava-me em outra pessoa, que até de personalidade eu mudava. Não era mais seu barbudo. Adora chatear-me com a sua simples implicância. O ritual termina com ela beijando todo o meu rosto, e, portanto, toda a minha barba. O nosso amor é mediado por ela. Um amor de barba – se isso é possível.
(Felipov)
(Felipov)